Cientistas propõem construir uma “Arca” para salvaguardar o DNA de milhões de espécies na Lua

No caso de um apocalipse se aproximar, um grupo de cientistas propôs a criação de uma “arca” escondida dentro dos tubos de lava da lua. Um backup extraterrestre para preservar os espermatozoides, óvulos e sementes de milhões de espécies em nosso planeta.

A arca, ou banco de genes, estaria escondida com segurança nesses túneis e cavernas escavadas por lava há mais de 3 bilhões de anos e seria alimentada por painéis solares acima. Ele conteria o material genético criogenicamente preservado de 6,7 milhões de espécies conhecidas de plantas, animais e fungos na Terra, o que exigiria pelo menos 250 lançamentos de foguetes para serem transportados até a Lua, segundo os pesquisadores.

Os cientistas acreditam que o esforço poderia proteger a vida selvagem do nosso planeta contra cenários apocalípticos naturais e artificiais, como a erupção de um supervulcão ou guerra nuclear, e garantir a sobrevivência de seus genes. O plano foi apresentado no domingo, 7 de março, na IEEE Aerospace Conference, realizada praticamente este ano devido à pandemia COVID-19.

“Há uma forte interconexão entre nós e a natureza”, disse o autor principal Jekan Thanga, chefe do Laboratório de Exploração Robótica Terrestre e Espacial (SpaceTREx) da Universidade do Arizona. “Temos a responsabilidade de ser administradores da biodiversidade e dos meios para preservá-la”. Ainda não existe toda a tecnologia necessária para esse ambicioso projeto, mas os pesquisadores acreditam que ele poderá ser construído de forma realista nos próximos 30 anos, observou o cientista.

Ameaças existenciais A principal motivação por trás da arca lunar é criar um local seguro de armazenamento fora do mundo para a biodiversidade. “Gosto de usar a analogia de dados”, disse Thanga. “É como copiar suas fotos e documentos de seu computador para um disco rígido separado, para que você tenha um backup se algo der errado.”

Portanto, se um evento apocalíptico destruísse o mundo natural ou eliminasse a maior parte da humanidade, haveria uma chance de “apertar um botão de reinicialização”, acrescentou. Em sua apresentação, os pesquisadores listaram as seguintes como possíveis ameaças existenciais à biodiversidade na Terra: erupção supervulcânica, guerra nuclear global, impacto de asteróide, pandemia, mudança climática acelerada, tempestade solar global e seca global.

“O meio ambiente e a civilização humana são muito frágeis”, disse Thanga. “Muitas dessas circunstâncias realmente trágicas podem acontecer.” Criar backups genéticos para preservar a biodiversidade não é um conceito novo. O Svalbard Global Seed Vault , localizado dentro do Círculo Polar Ártico na Noruega, contém as amostras genéticas de espécies de plantas de todo o mundo e já foi usado para reintroduzir certas plantas na natureza.

No entanto, essa abóbada ainda corre o risco de ser destruída pela subida do nível do mar ou pelo impacto de um asteróide. Apenas armazenando informações genéticas em outro lugar do Sistema Solar podemos garantir que sobreviva a qualquer ameaça existencial para a Terra, disseram os pesquisadores. Tubos de lava A Lua foi a escolha óbvia para uma arca de outro mundo por um motivo principal: é apenas uma viagem de quatro dias da Terra, o que significa que transportar as amostras é muito mais fácil do que levá-las a Marte.

Construir uma arca em órbita ao redor da Terra também não é seguro o suficiente devido à instabilidade da órbita. Outro benefício de construir uma arca na Lua é que ela pode ser escondida com segurança em tubos de lava. Essas cavernas e túneis escavados abaixo da superfície foram formados durante a infância ígnea da Lua e permaneceram intactos desde então. Os tubos de lava protegeriam a arca de colisões de meteoros e radiação prejudicial ao DNA. Tubos de lava também foram sugeridos como locais excelentes para construir cidades lunares para uma civilização humana na lua.

“A menos que haja um impacto direto de um meteoro ou nuclear, a arca deve ficar bem”, disse Thanga. “E pode haver até 200 tubos de lava adequados para a arca.” Os pesquisadores propõem primeiro mapear esses tubos usando robôs especialmente projetados, capazes de explorar cavernas e túneis de forma autônoma. Os hipotéticos robôs SphereX se pareceriam com grandes “pokeballs” com uma metade superior cinza metálico escuro e uma metade inferior bronze, de acordo com Thanga.

Os robôs SphereX seriam capazes de pular na baixa gravidade da Lua e mapear os tubos usando câmeras e LIDAR, um método de sensoriamento remoto que usa luz na forma de lasers pulsados para medir distâncias. Assim que os robôs identificarem um tubo de lava adequado, a fase de construção pode começar. Construindo a base A arca proposta incluiria duas seções principais acima e abaixo do solo.

As amostras genéticas seriam mantidas em módulos de crio armazenamento dentro dos tubos de lava que seriam conectados à superfície por elevadores. Na superfície, um conjunto de comunicações e painéis solares permitiriam que a arca permanecesse autonomamente e uma eclusa de ar permitiria visitantes humanos. Construir a arca seria um grande desafio logístico, mas Thanga disse que as próximas missões à lua da NASA e da Agência Espacial Européia (ESA) estabelecerão as bases para este tipo de projeto de construção.

O cientista prevê que transportar as amostras para a Lua será o aspecto mais desafiador e caro da construção da arca, de acordo com alguns “cálculos rápidos e intuitivos”. Esses cálculos assumem que 50 amostras seriam necessárias para reintroduzir com sucesso uma espécie. No entanto, a reintrodução de cada espécie poderia na verdade levar até 500, o que significaria que muitos mais foguetes seriam necessários. Esses cálculos também não incluem os lançamentos necessários para transportar os materiais necessários para construir a arca em primeiro lugar.

“Custará centenas de bilhões de dólares para construir a arca e transportar as amostras”, disse Thanga. “Mas isso não está totalmente descartado para colaborações internacionais como a ONU.” Robôs super legais Mesmo assim, um aspecto da arca lunar está fora de alcance. Para que as amostras sejam criogenicamente preservadas, elas devem ser armazenadas em temperaturas extremamente baixas entre menos 292 e menos 321 graus Fahrenheit (menos 180 a menos 196 graus Celsius).

Isso significa que não seria prático usar humanos para classificar e recuperar amostras de módulos de armazenamento criogênico. Em vez disso, os robôs teriam que fazer o trabalho pesado. Mas em temperaturas tão baixas, os robôs seriam congelados no chão por soldagem a frio, onde os metais são fundidos sob temperaturas de congelamento. A solução, segundo os pesquisadores, é a levitação quântica. Esta solução teórica é basicamente uma versão supercarregada do magnetismo que usa materiais supercondutores para fixar objetos em um campo magnético. “Você pode ter coisas remotas conectadas, então você pode levitar robôs”, disse Thanga. “É como se eles tivessem cordas invisíveis ou cordas presas a eles.”

A levitação quântica ainda não é possível, mas também será necessária no futuro para outros projetos criogênicos, como viagens espaciais de longa distância, então é apenas uma questão de tempo até que alguém descubra como fazer isso. Os pesquisadores dizem que um prazo de 30 anos é possível, mas se a humanidade enfrentasse uma crise existencial iminente, isso poderia ser feito muito mais rápido. “Este é um projeto que exigiria uma urgência real para ter muitas pessoas motivadas o suficiente para ir atrás dele. Acho que isso poderia ser alcançado em 10-15 anos, se necessário ”, concluiu Thanga.

Fonte: ScienceAlert . Edição: MP , Mystery Planet